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Uma lenda chamada Thonet

David Lourenço

Apesar da minha formação em publicidade, atuar no setor e adorar o que faço, a arquitetura e suas vertentes fazem meus olhos brilharem.

Não tenho um estilo definido e fechado (o meu conceito de personalidade é amplo; não sigo a receita básica).

O momento é de explosão criativa, experimentar e misturar são as palavras de ordem, sempre com o mesmo objetivo de criar o seu espaço para viver, em cada escolha de determinado objeto até a construção de toda uma atmosfera particular.

Há alguns anos, quando eu estava montando a minha primeira casa, fui totalmente abduzido por uma ideia chamada Thonet. Você talvez não esteja ligando o nome ao objeto, mas com certeza já esteve sentado fazendo uma refeição em uma cadeira nº 14 ou relaxado ao se balançar em uma nº 04. Ainda não está lembrando, não é?

Michael Thonet era filho de carpinteiros e desenvolveu uma técnica para arquear madeira sólida ao vapor (um marco na história do desenho industrial), dando vida a um objeto leve, elegante e com poucos elementos. Com a ajuda de seus filhos, em 1859 apresentou em Viena a cadeira que é até hoje a mais vendida na história; uma peça com simplesmente 6 elementos e 6 parafusos.

Batizada na época como nº 14 (hoje é a 214 no catálogo), a cadeira de “estilo austríaco” foi uma encomenda de uma cafeteria em Viena. Era perfeita para o estabelecimento, pois além das características já citadas, suas tramas em palha perfuradas evitavam respingos de café. A fabricação era rápida, barata e de uma logística extremamente simples; cabiam 36 cadeiras em uma caixa de apenas 1 m2, o que acelerou exponencialmente as vendas e até 1930 mais de 50 milhões de exemplares já tinham o seu lugar no mundo.

O estilo Thonet ultrapassou as cadeiras convencionais, dando forma também para as de balanço, bancos e mesas.

Mas voltando ao meu desejo de misturar épocas, texturas e cores, sem seguir um manual, penso que nunca mais vou conseguir morar numa casa sem um objeto Thonet. Sinto que são atemporais e que apesar dos seus mais de 160 anos, trazem frescor para qualquer ambiente. Hoje em casa, são as nº 14 ebanizadas com a palha clara que contornam a mesa de jantar Saarinen branca de tampo Piguês, o encontro da Viena de 1859 com a Finlândia de 1956.